quarta-feira, 25 de agosto de 2010

EDITORIA: CRÔNICA - JORNAL MATÉRIA PRIMA (ACADÊMICA: MEIRYELLEN FORMIGONI)

(Publicado também em www.jornalmateriaprima.com.br)
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O barato que acabou saindo caro demais

Na ilusão de realizar o sonho, estudante de direito acaba sendo enganado pela empresa Fodevoc na cidade de Marocaste


Imagem/Camila Munhoz
"Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o número de pessoas que foram deportadas ou tiveram negada a entrada em outros países quase dobrou de 2005 a 2006, chegando a 13,5 mil pessoas, e manteve a mesma tendência nos anos seguintes."
G1.globo.com – Publicado em 3 de agosto de 2009

Meiryellen Formigoni
Uma tempestade pairava sobre a cidade de Marocaste. Era sábado e junto com a chuva que debulhava do céu, uma nuvem de dúvidas atingiu minha cabeça. Eu queria muito conhecer o exterior, mas como na vida de todo acadêmico, a grana era curta e a faculdade de direito me tomava a maior parte do tempo. Adormeci.

Depois do longo final de semana chuvoso, chega segunda-feira. Levantei-me apressado para não perder a aula, nem a prova do professor Trovajão. Como se não bastasse o meu jeito atrapalhado e desatento, correndo, escorreguei em umas folhas de papel que estavam no chão. Fiquei todo sujo de lama e com vontade de xingar até as pedras. Entrei em casa para trocar de roupa e ir à aula.

Voltando à entrada de casa, percebi que vários exemplares do mesmo folheto (que foi responsável pelo tombo), estavam espalhados por toda a quadra. Peguei um e li.

- A Fodevoc está oferecendo passagens aéreas para os Estados Unidos por menos da metade do preço. Venha conferir.

Apressado, fui até a tal empresa, que tinha nome esquisito, mas iria me satisfazer.

- Ô moço, me vê aí uma passagem pros Estates!

Aahh aquela passagem! Nunca me senti tão feliz. Corri pra casa, arrumei as malas. O avião ia partir às 18h. Esqueci-me até da prova do Trovajão.

- Ô grandalhão, onde eu embarco?
- O avião está esperando em outro lugar. Vamos, suba para o ônibus.


Peguei as malas e nem pensei. Quando acordei me deparei com a pior cena da minha vida: Fronteira do México.

- Mas, como assim? Grandalhão, eu paguei pra ir pros Estados Unidos, não pro México! De ônibus!
- Cala a boca, senão te mato! Entra logo nessa porcaria de fronteira e corre, porque se você for pego, os caras te matam lá na frente. Vamos! Não queria conhecer os Estados Unidos? Agora você vai fazer um tour primeiro pelo “inferno”.


Pasmado e sem rumo, com aquela arma destrambelhada na minha nuca, saí correndo do ônibus. Eu ouvia os tiros, mas nem olhava para trás. Atravessei o rio mais rápido que um golfinho.

- Ufa, cheguei.

Depois de atravessar a correnteza, consegui me acomodar bem do outro lado da margem do rio, sem que ninguém me apanhasse. Mesmo estando longe da minha viagem dos sonhos, ainda matutava uma maneira de conseguir conhecer os Estados Unidos.

- Tum! Tum! Paah! (...) Foram dois socaços e a queda inevitável.

Quando eu acordei, na manhã seguinte, estava na cadeia de Washington, sendo acusado de contrabando e travessia ilegal. Os caras da cadeia me olhavam torto e o sufoco que passei para não apanhar lá dentro foi demais.

- Ei! Venha que o delegado quer te ouvir. Senta aí, que ele já vem.

Passados alguns minutos o delegado entra:

- Professor Trovajão? O que você tá fazendo aqui?

Super assustado, o Trovajão não conseguia nem responder. Ele vivia viajando, até aí tudo bem. Mas o que eu não sabia é que ele tinha outro emprego, fora da instituição (o que era proibido). Ele pediu para que os guardas saíssem da sala.

- Você tá liberado, moleque. Mais ai de você se essa história sair daqui.
- Mas, professor Trovajão, o que eu ganho com isso?


Pois é, não conheci os Estados Unidos como eu queria, mas mesmo sem dinheiro no bolso, voltei pra casa de graça, na classe A do avião, virei cúmplice do professor mais temido da universidade e ,de quebra, tirei 10 durante todas as provas do ano.


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