quarta-feira, 25 de agosto de 2010

REPORTAGEM - JORNAL MATÉRIA PRIMA / EDIÇÃO 307 (Acadêmicas: Aline Boone e Meiryellen Formigoni)

(Publicado também em www.jornalmateriaprima.com.br)
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Namoro fast-food, tendência no século 21

A busca por prazer tornou-se fundamental nos relacionamentos; agora é na prática sexual que os casais se conhecem


Imagem/Aline Boone
Atualmente casais optam por sexo como forma de se conhecer
(Aline Boone)
Até recentemente o namoro representava a fase em que homem e mulher passariam mais tempo juntos para se conhecer. Era nesse período, num processo relativamente lento, em que se percebiam semelhanças e diferenças que poderiam levar a um longo ou a um curto tempo de convívio. Assim como a sociedade, o namoro se modificou com os anos, mas está longe de representar aquele tempo de descobertas. O namoro, agora, pode estar se tornando apenas uma busca mais acelerada, e facilitada, por sexo e prazer.

Houve mudanças na sociedade. Hoje as pessoas têm outros valores, a cultura mudou, os costumes se modificaram. O que era proibido há algum tempo, hoje não é mais. O namoro é um desses fatores, que deixa bem claro como a forma de "conhecer o outro" passou por um contraste.

A vendedora de caldo de cana Ângela Veçanha, 61, relembra como era o namoro na época em que era jovem. “Antigamente, no namoro, a moça sentava-se em um canto e o moço do outro, não tinha esse negócio de ‘agarra-agarra’. Não tinha isso de ‘ficar’, namorar era coisa séria. Era necessária a aprovação dos pais”, disse. Para Ângela a influência da mídia, a ausência dos pais e a forma de as mulheres se vestirem, ajudaram para que o namoro perdesse a essência.

A mudança de comportamento das pessoas na sociedade veio acarretar transformações no modo de se relacionar, não apenas no namoro. De acordo com a psicóloga Gilcinéia Rose da Silva Santos, os vínculos afetivos são importantes nesse momento. “Os pais precisam ter mais tempo com os filhos. O contato é pouco, então esses filhos, dessa sociedade modernizada, levam isso para o relacionamento, onde vai existir um não envolvimento, por causa de ‘N’ motivos. Um deles é esse conhecer um ao outro, aprender a conviver com os defeitos da pessoa, aprender a se frustrar e mesmo assim estar junto. Os jovens têm dificuldades de aprender isso em casa”. Ela completou: “Hoje, vemos os relacionamentos como fast-foods, uma comida rápida, eu preciso experimentar tudo e muito rapidamente para ver se essa pessoa é boa o suficiente para mim. Senão, já vou trocá-la”.

O sexo casual é algo que cada vez mais está sendo praticado. O prazer está sendo buscado compulsivamente. A sexóloga Eliane Rose Maia Braga explicou o motivo de as pessoas, hoje, interessarem-se tanto por sexo nos relacionamentos e fora deles também. “Antigamente, o desejo ficava escondido, negado, sublimado, hoje não. Se as pessoas têm desejos elas transam, se os indivíduos se respeitam, e sabem o que querem da vida deles, não tem problema. Sexo é bom, para quem gosta e para quem faz consciente. É, sim, uma forma de se conhecer. A mídia é uma das principais influências para as pessoas exporem os desejos. Controla desde crianças até adultos”. Para Eliane, em um relacionamento, as pessoas devem ter respeito por sí e pelo outro. “Deve existir diálogo entre o casal, aprender um ao outro é vital, e, claro, amar-se. Assim, acredito que serão felizes”.


Adolescência e os riscos do amor precoce


Garotos procuram melhorar o desempenho com as parceiras e apelam para métodos prejudiciais à saúde e à mente


(Meiryellen Formigoni)
O sexo na atualidade perdeu os tabus, preconceitos e até mesmo o valor. Foi, de certa forma, vulgarizado. Por conta disso, os pais acabam aceitando que os filhos se relacionem sexualmente com os namorados ação dentro da própria casa, sem nenhum empecilho. Enquanto isso, instruções de prevenção, que deveriam prevalecer, são esquecidas. Métodos contraceptivos e preventivos, como o uso da camisinha e do anticoncepcional, deveriam ser incluídos também nessa “atitude liberal”. Por esse descuido, o que se analisa socialmente são meninas grávidas cada vez mais cedo e meninos tentando se reafirmar perante as parceiras, ingerindo medicamentos desnecessários juntamente com drogas e álcool.

Jovens se relacionam intimamente assim que o namoro começa, deixando de lado toda aquela ansiedade, e até então necessidade de conhecer o outro. A porção sentimental está sendo deixada de lado, excluindo do relacionamento os valores, o companheirismo e o amor. Fatores como esses, levam a maioria dos jovens, a procurar primordialmente o prazer, em vez do afeto. O desempenho com as parceiras, para os meninos, passa a ser algo essencial e para realizar esses fetiches, eles acabam usando métodos que além de serem contraindicados, causam danos à saúde, podendo levá-los da dependência psicológica até a morte.

Segundo a reportagem realizada pela Gazeta On line, em 17 de julho de 2009, os jovens estão apelando para o uso de estimulantes sexuais, indicados para idosos com dificuldade de ereção: o Viagra. O urologista Eduardo Marsiglia, entrevistado pela reportagem da Gazeta, deixa claro, em sua declaração, os problemas psicológicos que o medicamento causa. "Tenho pacientes jovens que estão dependentes e usam Viagra em todas as relações, pois eles têm medo de não ser tão bons para as parceiras, quando estão sem usar o remédio.”

Mas há quem enxergue o sexo de outra maneira. O casal J., 19, e R., 20, que prefere não se identificar, conta que o relacionamento começou como forma de amizade. Os dois se conheceram na faculdade e a proximidade os levou a um relacionamento. Ambos deixaram os parceiros e estão juntos. “Sempre nos demos muito bem e ficamos cada vez mais próximos. O nosso namoro foi ‘engatado’ somente depois de um ano, quando percebemos que queríamos ser mais que amigos.” Ainda de acordo com o casal, a intimidade e o sexo foram acontecendo, nunca postos como “essência”. “Hoje pensamos muito no futuro, em ter uma família”, afirma J.

Outro fator que a sexualidade desencadeia, é a gravidez precoce. Para o ginecologista e obstetra Jailton Santiago Junior, 29, o que resulta na gravidez na adolescência é a falta de conscientização por parte dos pais. “É difícil encontrar jovens que venham ao meu consultório em busca de informação e acompanhamento ginecológico ao terem relação sexual pela primeira vez. Algumas mães trazem as filhas, mas infelizmente as acompanham na consulta, o que causa receio, vergonha e até mesmo medo de contar que já tiveram relação.” O médico disse ainda, que esse fator resulta na omissão. As jovens que acabam saindo do consultório com as mesmas dúvidas que tinham ao entrar. “Acredito que falta muita orientação e conscientização não só a esses pais, mas a toda a sociedade”, diz.

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