quarta-feira, 25 de agosto de 2010

EDITORIA: ENTREVISTA - JORNAL MATÉRIA PRIMA / EDIÇÃO 307 (Meiryellen Formigoni)

(Publicado também em www.jornalmateriaprima.com.br)

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“O povo é formado por uma múltipla cultura”

Durante sete anos, a professora doutora Renata Lara se dedicou aos estudos e divulgação da folkcomunicação


Imagem/Arquivo pessoal
Renata Lara: "Eu gostaria que essa ideia ficasse"
(Meiryellen Formigoni)
Em uma noite fria, de cortar os lábios, a equipe do jornal Matéria Prima esperava a professora doutora Renata Lara, 35, que chega ,apressada, ao nosso encontro. Ela é bacharel em comunicação social com habilitação em jornalismo pela UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), mestre em educação pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e doutora em linguística pela Unicamp (Universidade de Campinas).

A conversa girou em torno da introdução e o desenvolvimento dos estudos folkcomunicativos, assunto que a professora doutora ( que dispensou ser chamada de “senhora”) aborda com os alunos do Cesumar (Centro Universitário de Maringá) há sete anos, rendendo inclusive a criação de um seminário de folkcomunicação. Em pouco mais de meia hora de conversa, ela explica a presença dos estudos folkcomunicativos no cotidiano, as análises feitas por ela e como surgiu a ideia de criar o Seminário de Folkcomunicação, facilitando a aprendizagem e a interatividade dos alunos.

A folkcomunicação é uma teoria muito conhecida dentro dos cursos de comunicação social, mas é um tema desconhecido para a maioria das pessoas. De que maneira a folk está presente no cotidiano?
Até entre os cursos de comunicação social a folkcomunicação não é tão estudada quanto se pensa. Mas, em relação à presença folkcomunicativa no cotidiano das pessoas, é necessário compreender que, quando falamos em folk, estamos pensando em manifestações folclóricas de perpetuação, reconfiguração ou mesmo modificação da cultura popular. Pode ser por meio de gestualidades, meios artesanais etc. Para se fazer ouvir não necessariamente produzindo resistência.

E de que forma você se posiciona perante a participação dos indivíduos nessas manifestações populares?
Essas participações marcam, de um modo bastante amplo, que o povo é formado por uma múltipla cultura. Esse povo representa a diversidade brasileira na sua possibilidade de “confronto”, em que não há simplesmente a assimilação dessa cultura midiatizada e imposta pela elite econômica. É um povo que mesmo consumindo produtos midiáticos coloca -se ainda com características próprias. Hoje o sujeito ainda necessita de divulgação midiática para sobreviver. Á exemplo disso, temos a Festa de Parintins (Amazonas) que, embora hoje tenha se transformado numa grande produção midiática e turística, ainda preserva elementos próprios de uma cultura determinante daquele local.

Como estão os estudos e pesquisas sobre a folk no Brasil?
A folk passou a ser muito difundida, principalmente, a partir da ação de pesquisadores, como Marques de Melo, Roberto Benjamin, e pelos textos de Luiz Beltrão, fundador da própria teoria, colocando em circulação as manifestações folkcomunicativas. Quando falo que ela não é reconhecida, é no sentido de ser, ainda, pouco trabalhada. Atualmente, as pesquisas tem sido intensificadas principalmente à partir de grupos difundidos no núcleo de Folkcomunicação do Intercom, (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), embora ainda haja resistência por parte de professores e pesquisadores que desconhecem a potencialidade de tal referencial. Não só com relação aos estudos da folk em teorias da comunicação, mas também em Análise de Discurso, perspectiva francesa de Michel Pechêux, porque ambas, irão trabalhar com a desestabilização das “bases” e isso incomoda.

Há alguns anos, durante as aulas de teorias da comunicação ministradas no Cesumar, você introduziu a participação ativa dos alunos no estudo da folk por meio da realização de seminários. Como surgiu essa ideia de interação criativa entre aluno/ conteúdo?
A primeira vez que realizei o Seminário FolkCom foi em 2004. Foi um evento interno, para complemento avaliativo à prova. Naquele momento, comecei a observar que a folk [comunicação] permite realizar e transformar em prazer um trabalho teórico, metodológico e de pesquisa. Isso é visivelmente perceptível pelo próprio aluno, que acaba se identificando com a perspectiva folkcomunicativa justamente porque ela foge à essa "moldura elitizada" de referencial teórico formalizado. Eu não pensava que [o evento] fosse tomar dimensões maiores, mas ano após ano eu me surpreendia com as apresentações e o evento, aos poucos, foi crescendo.

Você disse ainda há pouco, que os alunos te surpreenderam com as apresentações e fizeram o evento tomar dimensões maiores. Há alguma pretensão, perante isso, de divulgar ou de ampliar o evento para que seja reconhecido socialmente?
Esse interesse sempre existiu. Este ano, por exemplo, houve produção de banners, construção de um blog, produção de vídeos das apresentações, e fizemos tudo isso sem nenhum apoio financeiro ou recurso, até porque esse projeto não chegou a ser inscrito como projeto de ensino. Temos que considerar que existem dificuldades que acabam impossibilitando o desenvolvimento do próprio projeto. Mas a dificuldade também é a condição do docente que não tem o tempo dedicado à pesquisa, porque trabalha como “horista” e não tem esse tempo para se envolver com projeto de pesquisa/ensino e acaba não tendo respaldo institucional. Se dependesse única e exclusivamente do desejo docente e dos alunos, acredito que esse evento já teria se concretizado há muito tempo. Agora, pensar na concretização desse projeto, já é uma coisa que hoje eu não tenho como afirmar, diante dessas condições. Mas eu gostaria que essa ideia ficasse, que alguém pudesse levar adiante algum dia, tornando, realmente, um projeto de ensino essa idealização que foi iniciada há tanto tempo.

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